Resenha: Cattle Decapitation – “Terrasite” (2023)
Os californianos do Cattle Decapitation nos brindaram com “Terrasite“, o 10° álbum da banda que já pode ser chamada de veterana, com seus quase 30 anos de jornada. E os caras surpreenderam com um álbum avassalador de tão pesado e brutal.
Lançado em 12 de maio via Metal Blade, “Terrasite” encerra um jejum de quatro anos desde o último lançamento. O sucessor de “Death Atlas” ganhou esse título na junção de duas palavras: Terra (o planeta em que vivemos) e Parasite (parasita), que segundo eles pode ser uma espécie de destruidor do planeta ou mesmo uma humanidade pós-antropocena.
A bolacha foi gravada, mixada e masterizada no estúdio Flatline Audio, em Denver, entre os meses de maio e julho do ano passado, tendo como produtor o velho parceiro da banda, Dave Otero, que produziu cinco dos dez álbuns lançados pelo Cattle Decapitation até hoje. O álbum é dedicado a memória do ex-guitarrista Gabe Serbian, membro fundador e que fez parte do lineup até o ano 2000. Ele faleceu no ano passado, enquanto “Terrasite” era gravado.
O álbum impressiona não só pelo peso e brutalidade, mas também pela produção caprichada, que permite a compreensão de todos os instrumentos, ainda que o nível de rispidez das dez faixas, que aqui estão divididas em 52 minutos. No meio de tanto barulho que pode parecer desconexo para ouvidos sensíveis, há inclusões de partes atmosféricas, melódicas e progressivas, mas na maior parte do tempo, é o caos que reina absoluto em “Terrasite“.
A introdução épica na faixa de abertura, “Terrastic Adaptation” engana o ouvinte, que logo se surpreende com o Grindcore mais pútrido que uma banda é capaz de produzir. A dupla de guitarristas, Josh Elmore e Belisario Dimuzio é capaz de produzir riffs mortais, pesados e rápidos e o baterista David McGraw é veloz o suficiente na hora em que o pau quebra e tem a cadência perfeita quando as músicas pedem mudanças abruptas em seus respectivos andamentos. E o vocalista Travis Ryan consegue contrapor muito bem seu vocal, que ora é urrado, ora é mais berrado.
Os destaques maiores de “Terrasite” estão no meio da bolacha: “Scourge of the Offspring“, “The Insignificants“, “The Storm Upstairs“, “… and the World Will Go on Without You“, além da faixa derradeira, “Just Another Body“, com seus mais de dez minutos. Todas com um peso absurdo e contendo inserções que podem parecer não ter nada a ver, mas que acabam fazendo total sentido no resultado final. Os caras seguem tratando em suas letras o seu desprezo para com a espécie humana, e cá entre nós, essa espécie a cada dia só decepciona com tanto ódio e falta de empatia para com o próximo, que não seria uma má ideia um novo meteoro cair por aqui e dar a nós o mesmo fim que tiveram os dinossauros.
Um álbum impecável, que fica como sugestão para trilha sonora do fim do mundo, se é que esse fim um dia acontecerá. Indicado para fãs de Metal extremo e que apreciam experimentalismo nas composições e também para quem já não acredita na recuperação do bicho homem. Certamente um dos melhores lançamentos do ano. E certamente o mais brutal de 2023.
NOTA: 8