Resenha: Pallbearer – “Mind Burns Alive” (2024)

Ao revisitar discussões dos anos 90 sobre bandas de metal que mudaram radicalmente de estilo, é interessante observar como a recepção dessas transformações evoluiu. Naquela época, bandas como Paradise Lost e Ulver enfrentaram críticas e perplexidade ao abandonarem suas raízes no metal. Alguns fãs permaneceram fiéis, enquanto outros se afastaram. Hoje, essas mudanças parecem ser recebidas com menos resistência e mais elogios. Mas será que essa aceitação vem de uma apreciação genuína ou apenas de uma aceitação conformista?

O Pallbearer, em seu quinto álbum, “Mind Burns Alive”, lançado pela Nuclear Blast e trazido ao Brasil pela Shinigami Records, ilustra essa tendência. Após “Forgotten Days” (2020), a banda continuou a trilhar um caminho que se afasta de suas origens no doom metal, mergulhando mais fundo no hard rock de rádio. O novo trabalho é caracterizado por uma produção mais limpa e uma estrutura de composição que troca a complexidade por acessibilidade. As faixas frequentemente começam de forma suave, construindo-se para uma culminação de distorção e peso.

Brett Campbell, vocalista da banda, assume um papel mais proeminente neste álbum, liderando introduções em faixas como “Where the Light Fades” e “Daybreak”. Embora a banda ainda mostre vislumbres de seu passado grandioso, com guitarras harmonizadas e riffs de doom em “With Disease“, a essência que os tornava singulares parece ter se dissipado.

Minha frustração com o Pallbearer não reside na sua busca por um público maior, mas na perda de elementos que faziam suas músicas uma jornada emocional única. O peso das guitarras, as complexas estruturas musicais e a exploração emocional parecem ter dado lugar a um som mais genérico, mesmo que liricamente o álbum ainda mergulhe em temas sombrios.

Apesar das minhas reservas, “Mind Burns Alive” não é um álbum ruim. É mais consistente do que seu antecessor, embora falte a profundidade e a inovação que fizeram do Pallbearer uma força no cenário metal. Faixas como “Endless Place” e a já citada “With Disease” se destacam, proporcionando momentos de nostalgia com seus toques progressivos e peso característico. “Where the Light Fades” também se destaca pela sua construção emocional eficaz.

A questão que permanece é: por que o álbum está recebendo elogios quase unânimes? A transformação do Pallbearer de mestres do metal a uma banda de rock sólido não é necessariamente ruim, mas está longe de ser a experiência transcendente que muitos afirmam ser. É importante reconhecer a evolução das bandas, mas também é essencial questionar se essa evolução realmente mantém o espírito e a integridade que originalmente nos cativaram. Talvez, ao final, estejamos apenas aceitando o novo sem realmente avaliar o que perdemos no processo. Será que outros fãs conseguem admitir isso?

NOTA: 7

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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