Desconstrução e liberdade musical: STAUT e a arte de fazer música sem rótulos e para todo

A Banda de rock Staut é tudo aquilo que devemos esperar de uma banda de rock nacional de excelente qualidade. O quarteto feroz sempre se entregou com unhas e dentes em suas composições, e após anos de história, o grupo se estabelece como uma das grandes vitrines do nosso rock alternativo. Unindo competência, composições de peso, profissionalismo e com a afirmação que o rock é para todos, STAUT, mostra que veio pra ficar e degalgar ainda mais seu espaço na cena.

Staut é uma banda de Heavy Rock nascida no Vale do Paranhana, no Rio Grande do Sul. Fundada por Beta Staut(Voz) e Renato Staut(Guitarra), a banda passou por um hiato de 2008 à 2014 e hoje conta em sua nova formação com Chico Paz(Baixo) e Cassiano Haag(Bateria).

Seu último lançamento o single “O Presente é o Meio”, traz muito groove e peso em sua sonoridade e um discurso de força e afirmação para as minorias que sofrem com o medo instituído por uma sociedade conservadora. A música novamente produzida por Thiago Heinrich e distribuída pelo selo Electric Funeral Records, acaba de ser lançada nas principais plataformas de streaming.

“O Presente é o Meio”: https://open.spotify.com/album/028z7Xv4IBIH6EJdSiMCev

Em uma conversa sincera, STAUT, fala sobre sua história, processo de composição, as dificuldades de ser fazer rock no Brasil e sobre a enxurrada pop que nos permeia nos meios de comunicação. Confira a entrevista!

Como e onde surgiu a ideia de formação da banda? Quando Beta e Renato se conheceram, (lá pelo ano 2000), ambos possuíam afinidades musicais, mas cada um tinha um direcionamento artístico bem diferente. Beta já tinha iniciado sua carreira de cantora a algum tempo cantando em corais, grupos cênicos, fazia voz e violão com amigos e eventos com seu pai que é harpista profissional com reconhecimento internacional. Já o Renato, vinha de bandas punk/hardcore, depois passou pelo grunge até chegar na sua última banda antes da Staut, a S.I.G.L.A. Com esta banda fez diversos shows pela região do vale, misturando punk e hardcore com linhas de vocais de rap. Após alugarem uma sala para ensaio em 2004, surgiu a primeira formação da banda. Beta nos vocais, junto com Renato (guitarra), Juliano Bassman (baixo) e Juliano Banana (bateria), todos músicos remanescentes da banda S.I.G.L.A. “A ideia sempre foi fazer som autoral, mas no início mesclavamos com covers para conseguirmos tocar em festivais e bares da região”.

A banda lançou recentemente mais um videoclipe e dois novos singles. Como foi a gravação e produção desses novos conteúdos? Como faziam anos sem um material inédito de estúdio, a gravação dessas novas músicas foram empolgantes e muito gratificantes. Muitos fatores impediram com que a banda continuasse com a frequência de lançamentos, mas agora temos mais seis músicas prontinhas na fila para a gravação. A ideia, inicialmente, era um disco de oito músicas, mas a realidade está nos impondo o trabalho com singles. Isso está sendo uma experiência nova para nós, mas para falar a verdade estamos gostando do formato. Assim, procuramos envolver mais as pessoas com cada música, criando uma arte de capa individual, que também vira camiseta, e dando mais profundidade artística com os vídeos.

Falando primeiro do single “Novo de Novo”, foi como se tivéssemos dado o “start” novamente. Esse ano nós completaremos 10 anos de banda ativa e quase 19 anos do início de tudo. Faz apenas dois anos que retomamos as atividades e como o início de tudo se deu a quase duas décadas atrás, gravar a “Novo de Novo” foi realmente revigorante. O videoclipe dessa música foi super divertido de gravar. Fizemos um brainstorm gigantesco para conseguir gerar uma ideia legal e torná-la viável. Foi tudo gravado na nossa casa mesmo, com o apoio de um amigo próximo que é ator, chamado João Spalding e foi produzido pelo nosso sempre “parceiro por trás das câmeras” Diego Scheid.

Já o “O Presente é o Meio” é uma música que fala sobre luta, busca pelo autoconhecimento, autoconfiança, feminismo e gratidão. Lançamos ela durante o período das eleições porque ela traz uma carga social resultante de um retrocesso de visão que se instalou na nossa sociedade nos últimos quatro anos. Tudo o que gostaríamos de falar e transmitir o mais rápido possível. Por isso também optamos por um videoclipe que nos gera muita essência nas entrelinhas. As cores em neon, o preto e branco, tudo tem um significado e um porquê. A arte da capa e o vídeo desta música foram produzidos pelo Renato, (guitarra), e a música, assim como a “Novo de Novo”, foi produzida pelo Thiago Henrich, o TH, que deve produzir as próximas músicas que virão.

A cena independente costuma não ser tão favorável às bandas de rock. Quais as dificuldades que a banda já passou nesse cenário e quais as maiores motivações da banda? Nunca foi fácil. Costumamos dizer que sempre tocamos o barco sobre as pedras. Há pouco espaço para tocar se você não é uma banda de covers ou possui um estilo musical muito bem definido. Hoje a internet ajuda muito. Antes tu tinha que te sujeitar a muita coisa para ter o direito de aparecer para uma meia dúzia de pessoas. Fora que dentro do próprio meio do underground há sempre um sutil ar de questionamento de credibilidade. Com isso, nosso nicho vai ficando cada vez mais encurralado dentro dos seus círculos, dependendo das próprias forças para que algo no segmento aconteça. Uma das coisas que nos motiva hoje, é a ligação que temos com mais pessoas hoje através da Internet. Isso aproximou e uniu demais as cenas de diferentes regiões. As redes sociais se tornaram as peças fundamentais para nossa divulgação e nos deu mais gana e vontade de continuar.

Com a música POP dominando o mundo, vocês acham que o rock tem perdido espaço nas grandes mídias? Sim. Na verdade o rock teve um bom espaço nos anos 90 e início de 2000, onde vimos surgir uma banda fenomenal atrás da outra. A mídia mundial estava voltada para o rock e as grandes gravadoras, as rádios, a mídia em geral e nós que gostamos do estilo todos estavam em sintonia. Foi muito bom e a prova de que o rock tem público sim, só que a maior parte parece ter amadurecido. Vimos muitos movimentos nascerem, estourarem e morrerem. Como a vida, tudo é cíclico. Ao mesmo tempo em que bandas de rock gringas estouraram e ditavam as tendências de mercado musical, aqui no Brasil tudo acontecia de forma um pouco diferente. As bandas de rock que fizeram uma história de alcance popular no Brasil, sempre trouxeram elementos diferentes do que estava rolando fora daqui. Já as bandas que traziam elementos mais “raiz”, sempre estiveram e ainda estão no underground. Isso falando de artistas que fazem sentido para nós! Obviamente houveram aquelas bandas de “sucesso a qualquer custo”, que se transformaram no que os grandes investidores queriam e tiveram a sua “fama” esquecível. Para resumir esse raciocínio, o que é realmente popular está onde deveria estar e a boa música permanece no seu lugar. Sempre haverá alguém para estigmatizar e matar o rock e suas vertentes. Essas pessoas não sabem o que este estilo representa para quem leva isso no sangue. Claro que assim como no rock, há artistas e fãs em outros estilos de música que também trazem esse valor. Conflitos de estilo sempre existiram devido a momentos de emoções afloradas de quem defende sua paixão. Cada um na sua! Em algum momento, dentro dos devaneios de consumo do mercado da música, tudo pode mudar novamente e as atenções podem se voltar a um artista da nossa vertente que esteja fazendo a “coisa certa”, na “hora certa”. E é isso aí! Não é o rock que estará na mídia novamente e sim, o olhar das pessoas estará em outra direção. A mídia estará olhando para o underground e o rock estará lá, onde é a sua casa!

Como vocês enxergam a trajetória do Staut, conquistas e o amadurecimento desde o primeiro dia juntos até hoje? É tempo hein? Dezenove anos não é pouco! Estamos falando de duas décadas, gerações diferentes, muitos acertos e erros, integrantes, shows, estrada, insistência, músicas e mais músicas, acordes, batidas, melodias, letras, ideias, vivência. A Staut é fruto de resistência e família! Tudo foi muito pensado e curtido! Estamos felizes com o que construímos e o que estamos fazendo. Somos amantes da música, do som pesado, do rock antes de tudo e sempre fomos fiéis às nossas ideias. Entendemos o mercado da música e sabemos que o “sucesso” tem um preço. Sucesso para nós é ver a identificação das pessoas em um trabalho íntegro e verdadeiro. Fazer um show e ver a galera cantando nossas músicas, mesmo que seja uma pessoa só! Os comentários nas redes sociais, palavras de identificação. Costumamos dizer que estamos fazendo um trabalho para nos orgulhar. Fazer o que acreditamos que está faltando e não o que está na onda do momento. Queremos olhar para trás e pensar com orgulho do trabalho que fizemos. Já sentimos isso hoje! Para nós, já temos sucesso! Mas, obviamente, queremos mais!

Quais os planos e projetos da Staut para 2023? Shows, muitos shows, estamos precisando do contato físico, tocar ao vivo, interagir. Mas também vamos continuar o trabalho de gravar nossos sons novos e fazer vídeos. Divulgar bastante nas redes e conhecer mais gente como nós. Confeccionar camisetas fodas, porque adoramos camisetas. Quem sabe produzir novas cervejas, comercializá-las e tomá-las. Resumindo, assim como trabalhamos incansavelmente em 2022, vamos trabalhar em 2023! Procurando surpreender com as diferentes vertentes do rock nas nossas músicas, fazendo novas parcerias, enfim…, mantendo a chama acesa. Tamu junto!

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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