Dennis Stratton apresenta canções dos “early years” do Iron Maiden noite marcada por problemas técnicos e confusões

Texto: Daniela Reigas

Fotos: André Tedim

Único ex-integrante do Iron Maiden que ainda não havia feito turnê pelo Brasil, Dennis Stratton, guitarrista que gravou o primeiro e icônico álbum da gigante do Heavy Metal, não está tendo muita sorte com as apresentações no país até o momento. Uma tentativa anterior de turnê em 2020, ano de celebração aos 40 anos do lançamento, já havia sido completamente inviabilizada devido à pandemia de COVID-19.

Mesmo com saldão de 50% OFF no valor dos ingressos, 3 datas já foram canceladas por baixa vendagem, e houve troca de local em São Paulo – inicialmente anunciado para o VIP Station, e posteriormente alterado para o Teatro Mars, casa que tipicamente não costuma sediar eventos musicais – o inglês, que está excursionando com os brasileiros Leandro Caçoilo (VIPER, CARAVELLUS, entre outras) no vocal, e os integrantes da Blood Brothers Project, banda tributo ao Iron Maiden – Lennon Harris (Baixo), Lely Murray (Guitarra), Ricardo Lima (Guitarra), Piggy (Bateria), enfrenta algumas adversidades para realizar os shows, e não foi diferente no evento que ocorreu no último domingo, 3 de dezembro.

Divulgado como “Hard’n Mosh Festival” e com duas bandas nacionais (Dancing Flame e Living Metal) compondo o line-up antes da atração principal da noite, com abertura dos portões prevista para 16h, o clima era bem estranho quando ao chegar no local por volta desse horário, os portões ainda se encontravam fechados e uma van descarregava grandes caixas de equipamentos para a casa. Então, recebemos de última hora a informação de que os horários reais seriam 18h a sessão de Meet & Greet, 19h a Living Metal, 20h Dennis Stratton, e que a primeira banda simplesmente não se apresentaria mais.

Pois bem, adiante o relógio para as 18h, quando já havia uma fila na rua aguardando a liberação da entrada, e aqui já foi possível constatar a ausência de responsáveis da organização que estivessem aptos a dar informações específicas, motivo pelo qual alguns fãs acabaram ficando na fila à toa e quase perderam o M&G. Após validação de todos que ainda precisavam colocar a pulseira de identificação e serem guiados para se encontrar com o artista, o portão foi finalmente liberado por volta das 18:30h para que o público saísse da rua, mas apenas para ficarem represados no hall de entrada do teatro. As 19h se aproximavam, e apesar de ouvirmos alguns instrumentos sendo testados, nada indicava que a Living Metal estaria prestes a se apresentar – o que se confirmou pouco depois, quando o público foi liberado para se dirigir ao andar superior, já com visão da pista, e pode constatar que o kit de  bateria estava sendo alterado para o da banda principal, mas todos foram novamente represados esperando sabe-se deus o quê, num espaço tão apertado e escuro que a barraca de merchandising oficial quase passou despercebida.

Somos surpreendidos com ninguém mais, ninguém menos que o próprio Dennis, acompanhado por sua esposa, abrindo passagem em meio ao tumulto para que ele se deslocasse até o palco, e finalmente o acesso à pista e bar é liberado, o que pelo menos foi um alívio momentâneo para conseguir comprar uma água ou cerveja para se refrescar do calor que fazia naquele fim de tarde. O local dispõe ainda de um mezanino, e não houve nenhum tipo de distinção de ingresso por setor – em algum momento um seguraça da casa apenas mostrou onde ficava a escada e informou que quem quisesse subir para assistir com maior conforto, poderia. Não havia muita gente, cerca de 100 pessoas sem contar com a equipe da banda, e a pista ao menos era ampla e climatizada, então a maioria preferiu ficar bem perto do palco.

A banda começa uma passagem de som com Prowler, onde é possível testemunhar Dennis visivelmente irritado com o técnico de mesa de som, que aparentemente não conseguia atingir o volume ideal do retorno de seu microfone, ou ao menos estava tendo problemas com o aplicativo da mesa digital, pois mesmo com auxílio de algumas pessoas fazendo a tradução de como o músico preferia a sua configuração, não ficou satisfatório – em dado momento o músico simplesmente resmungou “que se dane, vamos começar”. Mais alguns minutos de espera e é a primeira vez que alguém vem à frente do palco se comunicar com o público acerca dos “contratempos” – um homem não identificado apenas informou que houve uma série de problemas técnicos e “na estrada” que impossibilitaram as apresentações da Dancing Flame e Living Metal, mas que o show de Dennis estava prestes a começar e a banda não tinha nada a ver com o ocorrido.

Às 20:20h então, apenas os músicos brasileiros entram em palco, para abrir o espetáculo com um bloco de 5 músicas que foram o diferencial, pois não estavam inclusas nos sets anteriores: “Purgatory”,I’ve Got the Fire” – cover do Montrose que vinha sendo executada desde 1980 mas só foi gravada em estúdio em 1983 -, “Innocent Exile”, “Another Life”, e a canção que já foi considerada por alguns como a pior coisa da carreira e que é renegada até pela própria banda: “Women in Uniform”, um cover da banda australiana Skyhooks, que foi um dos últimos trabalhos de Stratton com Steve Harris. Nas três primeiras músicas, o volume do baixo não estava adequado para uma banda onde esse instrumento é tão expressivo, o que levou a alguns ajustes técnicos alternativos (vulgo gambiarras) na caixa amplificadora e fez Lennon brincar dizendo que começariam tudo de novo (como se o show já não estivesse atrasado o bastante).

Por volta das 20:45h finalmente Dennis se junta aos colegas, munido de uma lata de cerveja em mãos, e anunciando “Prowler”, que promove grande empolgação nos presentes. Ao terminar a música, Dennis comenta que seu lado direito do palco está tão escuro que ele mal pode enxergar Lely e Ricardo no extremo oposto e pede mais luzes para eles, porém, o pedido não é acatado. Na sequência, duas canções do Killers, a pedrada “Wrathchild” e a instrumental recheada de guitarras em harmonia, “Transylvania”.

Dennis conta que a próxima música é uma de suas primeiras composições para o Iron Maiden, diz que gosta muito das letras e pergunta quem se lembra de Clive Burr (baterista original da banda e que também foi companheiro de Dennis no Praying Mantis, falecido em 2013 após lutar por anos contra a esclerose múltipla) – os fãs aplaudem e ovacionam a menção, e, Dennis aponta para o céu indicando que dedica a ele “Remember Tomorrow”. Vale destacar a performance vocal de Leandro Caçoilo nessa faixa, que também é belíssima na original com Paul Dianno. Um empecilho, no entanto, quebra a magia do momento: do nada, os holofotes principais começam a piscar freneticamente de forma estroboscópica, e, sem querer interromper a execução da música, Dennis apenas aponta para a estrutura e faz sinal de negação com a cabeça, o que parece passar despercebido por quem quer que fosse responsável pela iluminação. Por isso, assim que a música se encerrou, o músico não se conteve e bradou em seu microfone “Tell that fucking idiot to stop switching the lights. Leave the light on” (diga a esse imbecil para fazer as luzes pararem de piscar. Mantenha a luz acesa, em tradução livre).Não fica explícito se era mais algum tipo de problema técnico ou algo que havia sido acionado sem querer, mas ao menos depois da bronca, o problema parece ter sido resolvido.

Dando continuidade ao setlist, vem a clássica “Killers”, e as B-sides “Sanctuary” e “Charlotte The Harlot” – única composição da banda creditada exclusivamente a Dave Murray. Na sequência, o ponto alto do show, Strange World, na qual Dennis até se desloca mais para o centro do palco e executa com perfeição os melódicos solos da faixa sem sequer olhar para o instrumento, totalmente tomado pela emoção e esbanjando técnica e timbre, acompanhado pelos belos vocais de Leandro. Chegando à reta final, mais dois clássicos que fizeram a galera bater muita cabeça –  “Phantom of the Opera”, onde o músico também puxou a interação dos fãs com palmas ao ritmo da batida – e “Iron Maiden”, que todo mundo cantou junto. Para a faixa seguinte, também um hino, “Running Free”, Leandro propôs uma brincadeira com a plateia, que deveria se dividir em turma da esquerda e turma da direita, para ‘batalhar’ quem cantava mais alto. Obviamente que os fãs que estavam mais à direita do palco, ponta onde ficou Dennis, não toparam se deslocar, mas a brincadeira corria bem, até que um fã mais emocionado e possivelmente alcoolizado se aproximou muito do palco causando inconveniências a outros espectadores e partindo para agressão física, ao ponto de ser retirado por um segurança. Felizmente não houve nada grave e a banda pôde prosseguir para o encerramento com “Drifter”, a qual, segundo Dennis, não era tocada ao vivo desde 1998 e foi incluída no setlist exclusivamente para a turnê na América Latina. Dennis se diverte fazendo todos cantarem o verso “Yo Yo Yo”. Ao final, agradece a todos pela oportunidade e diz que está muito feliz de finalmente ter tocado aqui, e agradece também a seus companheiros brasileiros de palco.

Apesar dos pesares, ficou nítido que o músico apreciou a recepção calorosa dos fãs, o que foi confirmado por relatos de quem esteve no Meet and Greet, dizendo que ele foi extremamente educado, atencioso e simpático, tirando fotos e autografando items de memorabilia, e seu descontentamento foi exclusivamente com todos os problemas técnicos enfrentados – “os fãs não mereciam isso”, teria dito ele, segundo um fã. No dia seguinte, as bandas Dancing Flame e Living Metal divulgaram nota oficial em suas redes sociais afirmando que os problemas foram causados pela “péssima organização da produtora” e que não foram oferecidos equipamentos e condições mínimas para que o evento ocorresse bem. Tudo que podemos esperar é que Dennis tenha mais sorte nos shows restantes e guarde com muito carinho as boas recordações, pois para os fãs, valeu a pena enfrentar os perrengues: “caralh*, eu vi um membro original da maior banda de todos os tempos bem na minha frente!” foi a fala de muitos ao se dirigirem para a saída do local.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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