Motörhead: 29 anos de “Sacrifice”

Há 29 anos, em 11 de julho de 1995, o Motörhead lançava seu 12º álbum, “Sacrifice”, que é tema do nosso bate-papo nesta quinta-feira. Um disco que teve muitos problemas em sua criação, mas que se tornou um dos clássicos da banda de Lemmy. Vamos contar um pouco da história deste play.

O álbum marca a estreia da banda pela Steamhammer, selo pelo qual o Motörhead ficou até “Motörizer” (2008), passando um bom tempo sob contrato, depois de duas passagens rápidas por uma major (Epic) e um selo menor, a ZYX Music. Os fãs já aguardavam com certa ansiedade, pois já se aproximavam de dois anos sem qualquer lançamento de músicas inéditas.

Sacrifice” foi o segundo e último álbum da banda a contar com 4 membros em seu lineup. A exemplo do disco anterior, “Bastards”, novamente Howard Benson foi chamado para produzir o aniversariante de hoje. Ryan Dorn e a própria banda co-produziram, no “Cherokee Studios”, em Hollywood. Este era um dos melhores álbuns do Motörhead, de acordo com o próprio Lemmy, E ele explica as dificuldades na concepção do álbum:

Howard estava nos produzindo de novo, mas ele estava com outras ocupações e sua mente estava em dois ou três lugares diferentes. Na metade do tempo no estúdio, o engenheiro Ryan Donrn estava segurando a barra e seguia as orientações que Howard lhes dava, à distância.

Os problemas também afetavam a banda, mais especificamente com o guitarrista Würzel, que acabou saindo da banda logo depois da gravação do álbum. E cada integrante deu uma declaração sobre o guitarrista. Vamos colocar primeiro uma declaração de Lemmy sobre esse período:

“Ficava a cada dia mais claro que Würzel estava saindo da banda. Ele não se estendia de jeito nenhum e geralmente ficava sentado com o violão apoiado nos joelhos enquanto nós escrevíamos as músicas. Quando parávamos de tocar, ele também parava e quando voltávamos, ele tocava também.”

O baterista Mikkey Dee também falou de como a relação estava saturada, tanto de Würzel com a banda quanto da banda com o guitarrista.

“Lembro-me de quando aconteceu, ao mesmo tempo em pânico e satisfação, porque Würzel também estava muito cansado de nós e nós estávamos muito cansados dele. Sinto muito a falta dele como pessoa, mas não como guitarrista. Ele não foi razoável no final”.

Por fim, Phil Campbell resumiu a participação de Würzel no estúdio. Vamos acompanhar.

“Demorou quase seis horas para tentar fazer um solo em uma música do “Sacrifice” e, no final, ele simplesmente pegou a guitarra e colocou entre as pernas e depois a levou com ele. Foi basicamente isso.”

Para Lemmy, as razões para a insatisfação de Würzel eram as más influências que ele estava sofrendo, levando-o a crer que estava sendo enganado financeiramente:

“Ele só tocou um solo em todo o álbum. Na prática, ele já havia saído antes mesmo de gravarmos. Sua contribuição foi mínima, Ele começou a acreditar nas pessoas erradas, Eu era seu melhor amigo nos palcos e fora dele, eu era o seu melhor amigo, mas ele não acreditava nisso. Ele começou a me acusar de roubar seu dinheiro, mas eu não precisava do dinheiro dele e não o roubaria.”

Apesar dos problemas, nada afetou na qualidade deste play, que é bem alta, como iremos saber a partir dos parágrafos abaixo, que iremos destrinchar música por música.

Sacrifice”, a faixa título abre os trabalhos aqui e o que podemos dizer deste verdadeiro clássico do Motörhead? Seus riffs a lá Thrash Metal, mas com a swingada de Mikkey Dee na bateria e a quebradeira do refrão, fazem desta música a minha favorita de todos os tempos da carreira de Lemmy. Linda! Perfeita!

Sex & Death” é a faixa típica do Motörhead. Aquele Rockão com os dois pés no Metal. Os timbres de guitarra aqui estão ótimos. Uma música bem divertida. O detalhe é que essa música foi a última a ser escrita. Levou dez minutos para ser completamente escrita, no último dia de gravação.

Over Your Shoulder” é mais arrastada e densa, mas novamente traz bons riffs e a sujeira é o grande charme das guitarras aqui. Já “War for War” é um blues muito pesado, ainda mais arrastada que a música anterior, mas igualmente ótima.

Order/ Fade to Black” começa com muita influência do Doom Sabbathiano, e à medida que a música se desenvolve, ela vai se alternando entre partes mais rápidas e essa lentidão, que lembra muito a música Electric Funeral em alguns trechos, mas com as particularidades do Motörhead e com direito até a um solo bem legal de guitarra e o baixo de Lemmy aterrorizando nas partes rápidas.

Dog-Face Boy” é o bom e velho Rock and Roll praticado pelo Motörhead ao longo dos tempos. Direto, reto, sem frescuras, sem virtuosismo. E isso é muito legal, enquanto que “All Gone to Hell” tem uma pegada Hard Rock nas estrofes e no refrão ganha a velocidade do Punk Rock. Impressionante como o Lemmy conseguia navegar pelas duas vertentes e agradar a todos.

Make’Em Blind” é o ponto fora da curva deste play. Uma música meio sem graça, muito embora Mikkey Dee deixe seu registro com uma boa performance, mas a música parece monótona até o final, quando a grooveada fica explícita, melhorando um pouco. Mas ainda assim, ela está abaixo das demais faixas do aniversariante de hoje.

Ainda bem que a faixa “Don’t Waste Your Time” traz as coisas de volta aos eixos, em um Rock and Roll muito influenciado nos primórdios do estilo, com direito aos pianos que eram os destaques do estilo antes de as guitarras distorcidas tomarem conta de tudo.

In Another Time” é outra faixa típica do Motörhead. Enérgica, com um andamento relativamente mais rápido e muito agradável de se ouvir. Sem falar nos riffs, que aqui voltam a ser os protagonistas, e os destaques, obviamente. “Out of the Sun” tem um início despretensioso, mas logo logo ela cresce se tornando um Rock and Roll visceral e com um solo bem legal, encerrando com chave de ouro esse discaço.

Onze faixas em 36 minutos fazem de “Sacrifice” um ótimo álbum e obrigatório na coleção do fã não só do Motörhead, mas de Rock and Roll em geral. Este disco não teve a devida atenção na época. A faixa título foi incluída na trilha sonora de “Tromeo e Julieta”, fime que conta com a participação de Lemmy. Após o lançamento deste play, a banda optou em seguir como trio. E embora Würzel tenha participado das gravações, mesmo que não tendo sido tão ativo, na edição estadunidense do álbum, a foto da banda foi editada, retirando o guitarrista, que ao que consta, foi uma ideia da gravadora e não da banda. Lemmy também falou sobre esse fato:

“É estúpido ver como Würzel poderia nos processar e ele estaria certo, porque ele está no álbum.”

Sacrifice” figurou em alguns charts pelo mundo, mais precisamente na Europa: 31° na Alemanha, 32° na Finlândia e 36° na Suécia. O álbum foi bem recebido pela crítica e público, apesar das resenhas insistirem na tese de que o álbum não apresentava nada de novo e sim o velho Motörhead de sempre. Pelo simples fato de que a banda sabia fazer o simples se tornar maravilhoso e é essa a razão por tanta devoção dos fãs para com o trio liderado por Lemmy Killmster.

A faixa título apareceu no já citado filme trash “Tromeo and Juliet“, uma sátira com a obra mais conhecida de William Shakespeare e gravado no ano de 1996. Lemmy fez uma pequena participação no filme. 1996 também foi o ano que o Motörhead passou pelo Brasil, na turnê do aniversariante do dia, quando tocou na edição daquele ano do Monsters of Rock, ao lado de Iron Maiden, Skid Row, Helloween, Raimundos, Mercyful Fate, King Diamond, Biohazard e Heroes Del Silencio.

Não temos mais o Motörhead para poder apreciar nos dias de hoje, mas temos todo o legado que o genial Lemmy nos deixou. Então vamos aproveitar para manter viva a chama do Rock and Roll que ele tanto amou e celebrar mais um aniversário desse disco lindo e que envelhece bem, obrigado.

Sacrifice – Motorhead
Data de lançamento – 11/07/1995
Gravadora – Steamhamme

Faixas:
01 – Sacrifice
02 – Sex & Death
03 – Over Your Shoulder
04 – War for War
05 – Order/ Fade to Black
06 – Dog Face Boy
07 – All Gone to Hell
08 – Make’Em Blind
09 – Don’t Waste Your Time
10 – In Another Time
11 – Out of the Sun

Formação:
Lemmy Kilmster – baixo/ vocal
Phil Campbell – guitarra
Würzel – guitarra
Mikkey Dee – bateria

Participações especiais:
Bill Bergman – saxofone (em “Dont Waste Your Time”)
John Paroulo – piano (em “Don’t Waste Your Time”)

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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